quinta-feira, 2 de abril de 2009
RESENHA SOBRE O FILME :NARRADORES DE JAVÉ
NARRADORES DE JAVÉ, UM FILME SOBRE MEMÓRIA, HISTÓRIA E EXCLUSÃO
Direção : Eliane Caffé, 2004. Brasil
O sertão nordestino, a falta de conhecimento, a sutileza, as ironias e os momentos tragicômicos de Narradores de Javé são responsáveis pela temática do filme.
O longa metragem, dirigido por Eliane Caffé reúne elementos interessantes para discussão, além de vários prêmios recebidos pelo filme, apontam a qualidade com que os temas foram abordados. A trágica vida dos brasileiros do sertão nordestino; a falta de conhecimento que se relaciona com a História está presente: a História oral, a História oficial e a História científica, pois a literatura e o próprio cinema funcional como suportes para a História; a sutileza com que se tratam problemas sérios em nossa sociedade atual; as ironias dos momentos trágicos nos quais a população de Javé é vivida.
A narração, em terceira pessoa, é feita por Zaqueu, que tenta distrair viajantes num bar a beira de um rio. Percebe-se que Zaqueu não esteve presente no povoado e isso nos faz supor que a própria versão de é fruto de uma série de outras versões.
Basicamente, o filme trata de um povoado fictício (Javé), que esta prestes a ser inundado pra a construção de uma hidrelétrica. Para mudar esse rumo, os próprios moradores de Javé resolvem escrever a própria história do povoado e transformar o local em patrimônio histórico e assim ser preservado. O único adulto e alfabetizado de Javé, o funcionário do correio, Antonio Biá, e assim ele é incumbido de recuperar a história e transpor para o papel e transformar as memórias dos moradores em um documento histórico e salvador.
Vale a pena comentar que Antonio Biá fora expulso da cidade por inventar fofocas escritas dos moradores e por ironia, ele é escolhido para escrever o “ livro da Salvação”, conforme os próprios moradores chamavam este documento. E como Antonio tinha a qualidade de escritor “ inventador de histórias”, ele poderia escrever a história de Javé e salva-la do afogamento e também redimir-se dos moradores, pois Antonio vivia excluído do povoado em um lugarejo fora dos limites da cidade. E com essa capacidade, Antonio começa a escrever a história de Javé, reunindo pesquisas, relatos, selecionando-os e conectando-os de forma mais compreensível possível, pois Antonio era perfeito nisso, ele era um verdadeiro historiador que tinha a capacidade de aumentar as histórias.
Mas no decorrer da pesquisa, Antonio cai em uma enrascada, pois várias versões surgem dos heróis de Javé. Primeiramente surge a história de um bravo guerreiro, a figura de Indalêo, que se transfigura em um herói poderoso, bravo e até mesmo em um homem simples que tinha problemas de saúde. ( Não entraremos em detalhes neste problema , pois seria interessante assistir o filme e decifrar qual seria esse problema). Em outra versão, este herói seria Maria Dina, guerreira e audaciosa, provocando assim memórias incompatíveis e que seria impossível transformar a oralidade e um texto, principalmente um texto científico.
Num dos pontos mais interessantes do filme, é a versão de uma tribo, afastada do povoado, na qual relata este herói , como um herói negro, respeitando todas as tradições e culturas da tribo e narrada em um dialeto africano, demonstrando nesse aspecto também, visão dos excluídos do povoado.
Dessa forma, sinteticamente, todo o filme retrata uma disputa entre a história oficial e história oral dos narradores de Javé, isto é, a oralidade e a escrita.
Outro aspecto interessante é quando os moradores de Javé têm a oportunidade de serem filmados e relatarem a problemática do povoado ser inundado pela água, pois ali, naquele lugar, também estavam enterrados seus antepassados e seus filhos que haviam morrido e, sendo assim, não poderiam ficar embaixo d´água.
Mas apesar de todo o sacrifício da população e do árduo trabalho de Antonio, Javé é inundada, pois a variação da oralidade da história do povoado não se transfigura em um documento científico.
A narrativa de Narradores de Javé nos apresenta o intercâmbio entre o passado, o presente e o futuro na construção da História, pois só quando as pessoas do ex- povoado começara a trabalhar juntos em um único objetivo, aí então, a verdadeira história de Javé se inicia.
E mais uma vez a figura de Antônio Conselheiro é lembrado... “ e o sertão vai virar mar...”, talvez não pela a natureza, mas pelo próprio homem.
Direção : Eliane Caffé, 2004. Brasil
O sertão nordestino, a falta de conhecimento, a sutileza, as ironias e os momentos tragicômicos de Narradores de Javé são responsáveis pela temática do filme.
O longa metragem, dirigido por Eliane Caffé reúne elementos interessantes para discussão, além de vários prêmios recebidos pelo filme, apontam a qualidade com que os temas foram abordados. A trágica vida dos brasileiros do sertão nordestino; a falta de conhecimento que se relaciona com a História está presente: a História oral, a História oficial e a História científica, pois a literatura e o próprio cinema funcional como suportes para a História; a sutileza com que se tratam problemas sérios em nossa sociedade atual; as ironias dos momentos trágicos nos quais a população de Javé é vivida.
A narração, em terceira pessoa, é feita por Zaqueu, que tenta distrair viajantes num bar a beira de um rio. Percebe-se que Zaqueu não esteve presente no povoado e isso nos faz supor que a própria versão de é fruto de uma série de outras versões.
Basicamente, o filme trata de um povoado fictício (Javé), que esta prestes a ser inundado pra a construção de uma hidrelétrica. Para mudar esse rumo, os próprios moradores de Javé resolvem escrever a própria história do povoado e transformar o local em patrimônio histórico e assim ser preservado. O único adulto e alfabetizado de Javé, o funcionário do correio, Antonio Biá, e assim ele é incumbido de recuperar a história e transpor para o papel e transformar as memórias dos moradores em um documento histórico e salvador.
Vale a pena comentar que Antonio Biá fora expulso da cidade por inventar fofocas escritas dos moradores e por ironia, ele é escolhido para escrever o “ livro da Salvação”, conforme os próprios moradores chamavam este documento. E como Antonio tinha a qualidade de escritor “ inventador de histórias”, ele poderia escrever a história de Javé e salva-la do afogamento e também redimir-se dos moradores, pois Antonio vivia excluído do povoado em um lugarejo fora dos limites da cidade. E com essa capacidade, Antonio começa a escrever a história de Javé, reunindo pesquisas, relatos, selecionando-os e conectando-os de forma mais compreensível possível, pois Antonio era perfeito nisso, ele era um verdadeiro historiador que tinha a capacidade de aumentar as histórias.
Mas no decorrer da pesquisa, Antonio cai em uma enrascada, pois várias versões surgem dos heróis de Javé. Primeiramente surge a história de um bravo guerreiro, a figura de Indalêo, que se transfigura em um herói poderoso, bravo e até mesmo em um homem simples que tinha problemas de saúde. ( Não entraremos em detalhes neste problema , pois seria interessante assistir o filme e decifrar qual seria esse problema). Em outra versão, este herói seria Maria Dina, guerreira e audaciosa, provocando assim memórias incompatíveis e que seria impossível transformar a oralidade e um texto, principalmente um texto científico.
Num dos pontos mais interessantes do filme, é a versão de uma tribo, afastada do povoado, na qual relata este herói , como um herói negro, respeitando todas as tradições e culturas da tribo e narrada em um dialeto africano, demonstrando nesse aspecto também, visão dos excluídos do povoado.
Dessa forma, sinteticamente, todo o filme retrata uma disputa entre a história oficial e história oral dos narradores de Javé, isto é, a oralidade e a escrita.
Outro aspecto interessante é quando os moradores de Javé têm a oportunidade de serem filmados e relatarem a problemática do povoado ser inundado pela água, pois ali, naquele lugar, também estavam enterrados seus antepassados e seus filhos que haviam morrido e, sendo assim, não poderiam ficar embaixo d´água.
Mas apesar de todo o sacrifício da população e do árduo trabalho de Antonio, Javé é inundada, pois a variação da oralidade da história do povoado não se transfigura em um documento científico.
A narrativa de Narradores de Javé nos apresenta o intercâmbio entre o passado, o presente e o futuro na construção da História, pois só quando as pessoas do ex- povoado começara a trabalhar juntos em um único objetivo, aí então, a verdadeira história de Javé se inicia.
E mais uma vez a figura de Antônio Conselheiro é lembrado... “ e o sertão vai virar mar...”, talvez não pela a natureza, mas pelo próprio homem.
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Rogério,
ResponderExcluirÓtimo texto, você chamou minha atenção para detalhes que eu não havia percebido no filme, ainda.
Parabéns pelo início dos trabalhos.
Um abraço.
Erla